O Visitante Especial
O Visitante Especial
(Parábola)
No final de fevereiro, D. Mariquinha
(D.M.) estava com a conta zerada no Bradesco e com apenas R$50 na bolsa. O pior é que ainda precisava
agüentar uma semana sem dinheiro, ou retirar mais R$100 da Poupança, porque tem uma despesa média semanal de R$150. Deixou a geladeira esvaziar, dizendo a
si mesma que seria bom, pois somente assim poderia limpar aquela caixa de
alimentos, serviço que ela detesta fazer. Para ela é bem mais fácil escrever um
artigo de duas páginas ofício A-4 do que limpar a geladeira, embora goste de
cozinhar e de fazer qualquer outro tipo de serviço doméstico.
Quando chegou ao portão de entrada no
prédio onde mora, D.M. viu um senhor alto, magro e elegante, de cabelos e barba castanho escuros, com
uma sacola marrom às costas. Tinha feições nobres, mas sua aparência era
bastante humilde. D.M. olhou para ele, deu um sorriso gentil e perguntou se
poderia ajudá-lo, achando que ele poderia estar chegando de viagem e procurando
algum morador do prédio. Ele respondeu que estava chegando do Crato, Ceará, não
tinha onde se hospedar e o pastor Zeca,
dono da Papelaria Xande, ali
perto, havia dito que D.M. é da mesma cidade e costuma ajudar as pessoas que vêm
de lá.
Ela ficou indecisa e falou para si
mesma: “Neste mundo repleto de
“beira-mares” é até perigoso dar
pousada a qualquer estranho. Ele pode ser um bandido e me detonar à noite...
Além disso, o que os vizinhos vão falar, se eu receber esse homem em minha
casa?” Hesitou bastante, mas, finalmente, disse: “O Sr. pode entrar em meu apartamento para
tomar um banho, comer alguma coisa e depois vou encaminhá-lo a um abrigo de
pessoas carentes”. Ele concordou com um sorriso de gratidão e subiu junto
com D.M.
Ela não costuma comer comida
convencional, por isso tinha na geladeira apenas um resto de maionese de atum e
um papaia, prato que iria servir para o seu jantar. Pegou duas fatias de pão de
forma, colocou a maionese dentro das duas metades de papaia (já descascadas e
sem sementes), rodeou as fatias com cubos de pão amanteigado, colocou o último
tomate sem pele e sem sementes, a fim de completar a decoração do prato, e
serviu o VISITANTE num dos pratos azul rei, que havia comprado na semana
passada. Colocou um copo combinando com o prato, um guardanapo de papel e um dos
talheres comprados em Nova York, em sua última viagem aos States. Sobre a mesa,
ela botou uma toalha enfeitada de guirlandas coloridas... e tudo ficou lindo!
O visitante já havia tomado um
banho, enquanto D.M., por via das dúvidas, havia deixado a porta destrancada,
para, numa emergência qualquer, gritar pela boa vizinha Betty.
O visitante comeu tudo e elogiou o
prato, dizendo que aquilo não era comida cearense... Era comida européia! D.M. sorriu e disse que exatamente
porque não gosta de arroz, feijão, macarrão, e outros carboidratos, não come
doces e geléias e nunca foi gulosa, é que ela já passou dos setenta anos, com o
mesmo peso dos vinte. Conversaram bastante e ela descobriu que o homem era
culto, inteligente e muito simpático, além de ter a mesma voz do Cid Moreira. O coração
começou a arder-lhe no peito, com um sentimento diferente, e ela pensou: “Se ele tivesse a mesma idade que eu
tenho... meu computador iria morrer
de ciúmes...”
D.M. quase desistiu de conduzi-lo ao
abrigo de carentes, mas sua experiência fê-la mudar de idéia. No tempo em que
era microempresária na Baixada Fluminense, certa vez ela abrigou uma nordestina,
a qual encontrara perambulando pelas ruas do RJ, e a mulher lhe deu muita dor de
cabeça, exigindo que ela lhe desse metade da roupa de cama nova que viu numa das
gavetas da casa. Também abrigou uma jovem hippie paraguaia, que acabou ficando
seis meses em sua casa; uma jovem cearense, que desejava fazer um curso de
Estética, tendo ficado mais de quatro meses; uma jovem paulista, que depois de
seis meses, revelou-se uma tremenda mau caráter; um seminarista peruano, que
depois se revelou com segundas intenções, e, finalmente, uma mulher estranha,
que, no final das contas, era uma cigana e quase lhe seqüestrou a filha menor,
naquela época com dez anos de idade. A partir desse dia, ela ficou mais
cuidadosa. Mesmo assim, anos depois, hospedou uma “escritora” paraense, que acabou lhe
dando um prejuízo de R$200 e alguns problemas no supermercado
vizinho, onde deu uma nota falsa de R$10, e só não foi presa porque disse que
estava hospedada no apartamento de D.M. e o gerente era seu amigo.
D.M. relembrou todos esses incidentes e
optou por levar o VISITANTE ao abrigo de carentes. Contudo, ao sair do
apartamento, veio-lhe à memória este verso de Hebreus 13:2: “Não vos
esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram
anjos”. D.M. hesitou um pouco e já ia decidindo ficar com o
VISITANTE, quando este, olhando-a com doçura, falou: “Você já fez demais por mim. Provou que,
realmente, obedece aos mandamentos de Tiago 2:5,16: “Ouvi, meus
amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem
ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? ... E algum de
vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as
coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?”
D.M. ficou maravilhada com o conhecimento bíblico do visitante e
perguntou se ele era crente. Ele respondeu, simplesmente: “EU SOU O QUE
SOU!”.
Foi então que D.M. compreendeu que aquele VISITANTE de aparência humilde
não era outro senão o próprio JESUS CRISTO, Rei dos reis e Senhor dos
senhores!
Mary Schultze,
16/03/2003.
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