21 DE AGOSTO - LEITURA BÍBLICA ANUAL - JÓ 29 A 30.

Jó 29


1Jó prosseguiu sua fala:
2"Como tenho saudade
dos meses que se passaram,
dos dias em que Deus
cuidava de mim,
3quando a sua lâmpada brilhava
sobre a minha cabeça
e por sua luz eu caminhava
em meio às trevas!
4Como tenho saudade
dos dias do meu vigor,
quando a amizade de Deus
abençoava a minha casa,
5quando o Todo-poderoso
ainda estava comigo
e meus filhos estavam ao meu redor,
6quando as minhas veredas
se embebiam em nata
e a rocha me despejava
torrentes de azeite.
7"Quando eu ia à porta da cidade
e tomava assento na praça pública;
8quando, ao me verem,
os jovens saíam do caminho,
e os idosos ficavam em pé;
9os líderes se abstinham de falar
e com a mão cobriam a boca.
10As vozes dos nobres silenciavam,
e suas línguas
colavam-se ao céu da boca.
11Todos os que me ouviam
falavam bem de mim,
e quem me via me elogiava,
12pois eu socorria o pobre
que clamava por ajuda
e o órfão que não tinha
quem o ajudasse.
13O que estava à beira da morte me abençoava,
e eu fazia regozijar-se o coração
da viúva.
14A retidão era a minha roupa;
a justiça era o meu manto e
o meu turbante.
15Eu era os olhos do cego
e os pés do aleijado.
16Eu era o pai dos necessitados
e me interessava
pela defesa de desconhecidos.
17Eu quebrava as presas dos ímpios
e dos seus dentes arrancava
as suas vítimas.
18"Eu pensava: Morrerei em casa,
e os meus dias serão numerosos
como os grãos de areia.
19Minhas raízes chegarão até as águas,
e o orvalho passará a noite
nos meus ramos.
20Minha glória se renovará em mim,
e novo será o meu arco
em minha mão.
21"Os homens me escutavam
em ansiosa expectativa,
aguardando em silêncio
o meu conselho.
22Depois que eu falava,
eles nada diziam;
minhas palavras caíam suavemente
em seus ouvidos.
23Esperavam por mim
como quem espera
por uma chuvarada
e bebiam minhas palavras
como quem bebe a chuva
da primavera.
24Quando eu lhes sorria,
mal acreditavam;
a luz do meu rosto lhes era preciosa.
25Era eu que escolhia o caminho
para eles
e me assentava como seu líder;
instalava-me como um rei
no meio das suas tropas;
eu era como um consolador
dos que choram.

Jó 30

1"Mas agora eles zombam de mim,
homens mais jovens que eu,
homens cujos pais eu teria rejeitado,
não lhes permitindo sequer estar
com os cães de guarda do rebanho.
2De que me serviria
a força de suas mãos,
já que desapareceu o seu vigor?
3Desfigurados
de tanta necessidade e fome,
perambulavam pela terra ressequida,
em sombrios e devastados desertos.
4Nos campos de mato rasteiro
colhiam ervas,
e a raiz da giesta era a sua comida.
5Da companhia dos amigos
foram expulsos aos gritos,
como se fossem ladrões.
6Foram forçados a morar
nos leitos secos dos rios,
entre as rochas e nos buracos da terra.
7Rugiam entre os arbustos
e se encolhiam sob a vegetação.
8Prole desprezível e sem nome,
foram expulsos da terra.
9"E agora os filhos deles
zombam de mim
com suas canções;
tornei-me um provérbio entre eles.
10Eles me detestam
e se mantêm a distância;
não hesitam em cuspir em meu rosto.
11Agora que Deus afrouxou
a corda do meu arco e me afligiu,
eles ficam sem freios
na minha presença.
12À direita os embrutecidos
me atacam;
preparam armadilhas
para os meus pés
e constroem rampas de cerco
contra mim.
13Destroem o meu caminho;
conseguem destruir-me
sem a ajuda de ninguém.
14Avançam como através
de uma grande brecha;
arrojam-se entre as ruínas.
15Pavores apoderam-se de mim;
a minha dignidade é levada
como pelo vento,
a minha segurança
se desfaz como nuvem.
16"E agora esvai-se a minha vida;
estou preso a dias de sofrimento.
17A noite penetra os meus ossos;
minhas dores me corroem sem cessar.
18Em seu grande poder,
Deus é como a minha roupa;
ele me envolve
como a gola da minha veste.
19Lança-me na lama,
e sou reduzido a pó e cinza.
20"Clamo a ti, ó Deus,
mas não me respondes;
fico em pé, mas apenas
olhas para mim.
21Contra mim te voltas com dureza
e me atacas com a força de tua mão.
22Tu me apanhas
e me levas contra o vento
e me jogas de um lado a outro
na tempestade.
23Sei que me farás descer até a morte,
ao lugar destinado a todos os viventes.
24"A verdade é que ninguém dá a mão
ao homem arruinado,
quando este, em sua aflição,
grita por socorro.
25Não é certo que chorei por causa
dos que passavam dificuldade?
E que a minha alma se entristeceu
por causa dos pobres?
26Mesmo assim,
quando eu esperava o bem,
veio o mal;
quando eu procurava luz,
vieram trevas.
27Nunca para a agitação
dentro de mim;
dias de sofrimento me confrontam.
28Perambulo escurecido,
mas não pelo sol;
levanto-me na assembleia
e clamo por ajuda.
29Tornei-me irmão dos chacais,
companheiro das corujas.
30Minha pele escurece e cai;
meu corpo queima de febre.
31Minha harpa está afinada
para cantos fúnebres,
e minha flauta para o som de pranto.
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